O 1000 é para todos!

15 out 2021 | Análise de Redação, Blog | 0 Comentários

 O 1000 é para todos!

Se eu te dissesse que todo vestibulando recebe 1000 na redação, você acreditaria? Isso vale também para as outras áreas da prova. Bom, toda avaliação começa com nota máxima. No caso da redação, é 1000. 

Os descontos vão se dando conforme os problemas vão aparecendo. Para obter sucesso na produção textual, é fundamental, assim, conhecer as próprias dificuldades, na intenção de superá-las. É esse o caminho do 1000. Não fórmulas prontas que vemos por aí.

Para relembrar um pouco mais a correção da redação no ENEM, no intuito de entender os critérios que geram perda de nota, farei uma breve retomada do que é esperado em cada uma das competências. 

O ENEM, como vocês já devem saber, organiza a correção dos textos em cinco competências; cada uma tem valor de 200 pontos. 

Na competência 1, avalia-se a estrutura sintática e os desvios. Frases com truncamentos, ausência ou sobra de palavras, entre outros problemas que prejudicam a leitura, geram perda de pontos por falhas na estrutura sintática (leia sobre isso no post: https://www.escreveronline.com.br/category/blog/lingua-portuguesa). 

Os desvios, por sua vez, podem ser de convenções de escrita (acentuação, ortografia, uso indevido do hífen, separação silábica, uso indevido de maiúsculas e minúsculas), podem ser gramaticais (regência, concordância, pontuação, paralelismo sintático, emprego de pronomes, crase) e podem ser de registro (palavras informais ou marcas de oralidade).

Na competência 2, avalia-se a abordagem do tema, se integral ou parcial. Assim, se você apresentar uma discussão que considere somente parte do tema, e não o tema completo, haverá perda considerável de nota nesta competência. 

Além disso, avalia-se, aqui, a adequação ao tipo textual dissertativo-argumentativo. Se a redação for mais narrativa do que dissertativo-argumentativa, por exemplo, a nota 1000 fica bem distante. 

Por fim, analisa-se o repertório sociocultural apresentado no texto. É preciso que ele vá além dos textos motivadores, que seja validado em alguma área do conhecimento, pertinente ao tema e usado de forma produtiva, ou seja, que esteja ali para contribuir mesmo com a argumentação, não para enfeitar o texto. 

Na competência 3, observa-se a qualidade da argumentação. Para não perder pontos aqui, é preciso demonstrar um bom planejamento textual. Cada parte do texto – introdução, desenvolvimento e conclusão – precisa estar interligada, bem articulada.

Desse modo, se você apresentar como tese uma falha educacional que contribua para a problemática e, como proposta de solução, a criação de leis, por parte do Estado ou algo do tipo, haverá uma falha no planejamento textual. A proposta não condiz com o problema apresentado. 

Na competência 4, o foco principal é a coesão. É preciso fazer uso adequado e diversificado de recursos coesivos que contribuam para a argumentação. Não repetir palavras é um dos caminhos para não perder pontos aqui. Conectar um parágrafo a outro, ordenando o texto, é outro.

Na competência 5, a proposta de solução deve ser apresentada. Para não perder o desejado 1000 aqui, é preciso elaborar uma proposta articulada ao tema, com agente, ação, modo/meio, efeito e detalhamento (do agente, do modo/meio ou do efeito, o que é chamado de “efeito do efeito”). 

Façamos, agora, uma leitura crítica de uma redação avaliada com nota 1000 no ENEM de 2020, cujo tema foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. A intenção é observar em que medida o texto atende a todos os quesitos requeridos em cada uma das cinco competências. 

A redação é de Nathaly Nobre, de Alagoas e foiretirada de uma Notícia do Portal G1: https://g1.globo.com/educacao/enem/2021/noticia/2021/05/28/enem-leia-redacoes-nota-mil-em-2020.ghtml.  

A obra cinematográfica brasileira “Nise: O Coração da Loucura” retrata a luta de Nise da Silveira pela redução dos estigmas nas alas psiquiátricas e nas formas de tratamento enfrentadas por pacientes com enfermidades mentais, na medida em que desumanizavam estes. Nesse contexto, é evidente a perpetuação do preconceito em relação às doenças psíquicas, pois são, em sua maioria, menosprezadas e omitidas no cenário moderno do Brasil. Assim, faz-se necessário investir em educação voltada à questão da saúde mental, bem como romper com paradigmas da forma de vida contemporânea.

 

A princípio, sob a óptica do filósofo grego Aristóteles, a educação é um caminho fundamental para a formação da vida pública, à proporção que coopera para o bem-estar da cidade. Diante dessa perspectiva, a manutenção da estrutura deficitária da propagação de conteúdo de saúde mental, na sociedade brasileira, agrava o desenvolvimento de doenças psíquicas, visto que retira do cidadão o acesso ao conhecimento. Portanto, a não ministração de aulas e de eventos os quais abordem sobre essa temática promove, lamentavelmente, a disseminação de tabus falaciosos e a redução da busca por tratamento adequado – ao passo que o crescimento das enfermidades é avassalador.

 

Além disso, o modo de vida extremamente exaustivo atual é catalisador da problemática, uma vez que nega o cultivo das práticas do autocuidado em prol do máximo rendimento. De maneira análoga, de acordo com Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, em seu ensaio “Sociedade do cansaço”, vive-se a insana procura do ser humano pela alta produtividade em quaisquer meios, mesmo que retire dele os prazeres e a sanidade física e mental. Destarte, há a banalização do aspecto psíquico, porquanto é visto como desnecessário na vivência hodierna e, por conseguinte, a ansiedade e a depressão são absurdamente neutralizadas em razão das poucas políticas públicas incentivadoras e conscientizadoras.

 

Logo, cabe ao Ministério da Educação o investimento em aulas específicas sobre a saúde mental, por meio de Planos Nacionais da Educação e de eventos tanto escolares quanto ao grande público, haja vista a importância do máximo alcance possível, com a ministração de psicólogos e psiquiatras, a fim de garantir a visão aristotélica e de romper com os tabus preconceituosos. Ademais, o Estado deve promover políticas públicas de incentivo ao autocuidado, a exemplo de espaços destinados ao convívio humano e ao bem-estar, com o fito de quebrar com os paradigmas vivenciados por Nise da Silveira.

Observe que o tema solicitado pelo exame é apresentado pela candidata, de forma integral (não parcial), por meio de uma alusão literária/cinematográfica. A referência ao filme brasileiro “Nise: O Coração da Loucura”, totalmente adequada à temática, foi a escolha feita pela candidata para começar o texto. Em seguida, a questão é trazida para a realidade da sociedade brasileira. Por fim, a tese é devidamente apresentada.

Nos dois parágrafos seguintes, argumentos válidos e bem apresentados são usados para defender o ponto de vista. A referência ao pensamento de Aristóteles é feita de modo a sustentar o ponto de que, no Brasil, falta educação em relação ao tema da saúde mental, o que contribui para a manutenção do problema. 

O mesmo ocorre no parágrafo seguinte, com referência ao ensaio de Byung-Chul Han, apresentado ali para defender que a forma de vida atual banaliza a saúde mental.

Observe que esses dois pontos estão presentes, na mesma ordem, na introdução. Isso demonstra bom planejamento!

Em termos de uso de recursos coesivos, “A princípio”, “Além disso” e “Logo” foram usados, cada um com a sua função, para organizar as ideias no texto e concatenar um parágrafo a outro. 

No interior de cada parágrafo, as frases estão também interligadas. Não há, além disso, repetições desnecessárias de palavras.

A conclusão, por fim, apresenta duas propostas de solução articuladas ao problema discutido, sendo a primeira completa. 

Há, nela, agente – Ministério da Educação -, açãoinvestimento em aulas específicas sobre a saúde mental -, modo/meiopor meio de Planos Nacionais da Educação e de eventos tanto escolares quanto ao grande público,detalhamento do modo/meiohaja vista a importância do máximo alcance possível, com a ministração de psicólogos e psiquiatras -, e efeito a fim de garantir a visão aristotélica e de romper com os tabus preconceituosos. 

O texto de Nathaly Nobre nos mostra como obter o 1000 não é uma tarefa impossível. Inspire-se nele e busque, sempre, em suas produções, trabalhar a consciência textual, para que os descontos de nota, se ocorrerem, sejam os menores possíveis!

Um grande abraço,
Profa. Milene

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