Olá vestibulando!
Hoje vamos falar sobre um ponto importantíssimo e que é pouco estudado, o paralelismo sintático e semântico. Eu mesma descobri tarde o que era isso, mas na minha prática de correção de redação, intuitivamente percebia nos textos dos alunos algumas quebras sintáticas e de sentido que eu sabia que eram um problema, mas não sabia como nomeá-las. Para que você perceba o que estou falando, observe os enunciados a seguir:
- Ele acreditava na compra da felicidade e que poderia realizar seus sonhos.
- Há altos índices de corrupção no país que deveriam ser combatidos. Considerando que muitas áreas oferecem um atendimento precário. Não há investimento no setor público.
Nos dois casos, temos problemas de paralelismo sintático. No primeiro caso, há apenas uma quebra na construção sintática: o enunciado pode ser compreendido facilmente, mas causa uma espécie de perturbação na leitura, que seria mais fluida se os termos relacionados seguissem um paralelismo. Isso ocorre porque o primeiro complemento de acreditava é um substantivo, enquanto o segundo complemento é uma oração substantiva. O enunciado 1 poderia ser reformulado das seguintes maneiras:
1a. Ele acreditava que poderia comprar a felicidade e realizar seus sonhos.
1b. Ele acreditava na compra da felicidade e na realização de seus sonhos.
Já no enunciado 2, percebemos que há prejuízo para a sua compreensão. Isso ocorre porque há certas estruturas gramaticais que desempenham o papel de articuladoras textuais, promovendo a coesão e a progressão do texto. Muitas dessas estruturas articulam dois operadores, como, por exemplo: “à medida que acontecia x, ocorria y”; “ainda que x, y”; “se x, então y”. O modo como é utilizado o verbo considerar em 2 exige a articulação com outro operador, com um complemento, ou seja, exige que se tenha duas orações paralelas – “considerando x, tem-se y”. Observe como poderíamos corrigir o enunciado 2:
2a. Considerando que muitas áreas oferecem um atendimento precário, a corrupção no país deveria ser combatida para que o dinheiro desviado fosse investido nos serviços públicos.
Assim, observamos que os dois enunciados exigem uma estrutura paralela, relacionando dois termos. Ou seja, essa estrutura deve ser escrita de acordo com um paralelismo ou uma simetria de construção. Este paralelismo pode ser sintático ou semântico.
Paralelismo sintático: diz respeito à construção gramatical que articula dois ou mais períodos. Exemplos:
- Estamos ameaçados de um livro {terrível} [adjetivo] e {que pode lançar o desespero nas fileiras literárias} [oração adjetiva].
Estamos ameaçados de um livro que é terrível e (que) pode lançar […].
Estamos ameaçados de um livro terrível e capaz de lançar […].
- Sua atitude foi aplaudida não só pelo povo, mas também seus companheiros de farda lhe hipotecaram inteira solidariedade.
Sua atitude foi aplaudida não só pelo povo, mas também pelos seus companheiros de farda que lhe hipotecaram inteira solidariedade.
- Senti-me despido pela angústia, não tanto por causa do perigo, mas também devido à relação que meu espírito artificialmente estabelecia entre a sua saúde e meu amor.
Não só… mas também
Não tanto… quanto
Paralelismo semântico: diz respeito à articulação de sentido entre duas ideias. Exemplos:
- Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido.
Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra em Campinas.
Fiz duas operações: uma no nariz e outra no ouvido.
*Exemplos retirados de Comunicação em prosa moderna, de Othon Garcia.
Como você pôde perceber, a falta de paralelismo pode causar não só uma leve perturbação na leitura do enunciado, como também a sua total incompreensão. Nesse sentido, ao revisar seu texto, é importante estar atento a este recurso e, caso perceba alguma falta de paralelismo, procure reescrever a frase, de modo a corrigi-la. É claro que na música e na poesia a falta de paralelismo pode ser um recurso estilístico, mas na redação do vestibular você não deve utilizá-la, uma vez que se avalia o emprego correto da modalidade e da coesão e se valoriza a clareza e a objetividade.
Até a próxima semana!
Profa. Danusa
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